segunda-feira, 13 de novembro de 2006

Bolonha em águas mornas

Por engano dos altos dirigentes Eseanos, veio parar ao email do Estefanilho uma carta unicamente destinada aos docentes. E como nós não percebemos essa linguagem estranha, pedimos ajuda a alguém que dominasse o blablanhês.

Deste modo, é-nos possível publicar em primeira mão o porquê do processo de Bolonha não estar a ferver: simplesmente puseram-no em águas mornas.


O original:

(e é mesmo verdadeiro)


“Caros colegas,

As propostas de adequação dos planos de estudo, no âmbito do processo de Bolonha, têm vindo a suscitar um número crescente de dúvidas e ansiedades entre muitos docentes. Assim, antes da aprovação dos curricula em Conselho Científico, o Conselho Directivo considera fundamental chamar a atenção para alguns pontos essenciais:

  • Embora os exclusivos proponentes das unidades curriculares sejam os Departamentos, qualquer proposta deve assegurar-se que a instituição possui, no seu quadro actual, pelo menos um professor que por ela se responsabiliza, independentemente do docente que a vier a leccionar.
  • Por questões de gestão, as propostas de planos de estudo devem evitar, a todo o custo, tendências de "pulverização" das U.C., em particular no contexto da componente de "Formação Geral".

Em suma:

As propostas de planos de estudo devem primar pelo seu realismo, o que implica ter em linha de conta os recursos humanos actualmente disponíveis (no rigoroso respeito pelo quadro actual do pessoal docente). Nessa medida, os critérios para a distribuição do serviço efectivo para o próximo ano lectivo continuarão a ser escrupulosamente os mesmos.

O Conselho Directivo

Luís Souta

Luciano Pereira

Alcina Dourado”




Tradução para alunês:

(este já não é tão verdadeiro, mas não deixa de ser verdade...)


Caros colegas (lá caros são, fosca-se!),

Esta coisa do processo de Bolonha está-nos a pregar um cagaço a todos. Portanto antes que se enganem e aprovem coisas que não devem, deixem-nos dizer-vos como é:

  • As unidades curriculares só podem sair à rua com acompanhamento do docente ou da pessoa por elas responsável.
  • Como já temos trabalho de sobra, não se ponham para aí a espalhar unidades curriculares por tudo o que é sítio, especialmente na componente deFormação geral (correcção: “Formação Geral”).

Esqueçam o resto e retenham isto:

Vamos ser realistas, pois não podemos perder tempo a fazer entrevistas a outros docentes. Vocês ficam todos cá e tentam desenrascar a coisa para ver se os alunos conseguem adquirir pelo menos metade das competências que deviam. Respeito os que se querem ir embora e os que não concordam, mas já decidimos entre nós os três e nem vocês nem os alunos podem opinar.

Mais uma carta dinamizada pelo Conselho Directivo

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Deixando a brincadeira um pouco de parte, coisas como estas passam ao lado de nós, alunos.... a pior parte é que era suposto sermos nós os maiores interessados, porque isto diz respeito ao nosso futuro.

Como é que não há restruturações a nível dos recursos humanos, se supostamente estamos à beira de uma restruturação dos cursos? (ou assim pensávamos!).

Enfim, o que sabemos é que isto cheira muito mal... o tacho deve estar a queimar...





9 comentários:

Tabasco disse...

E Rapa o Tacho!
Não pode sobrar nem uma ervilha!
Ainda bem que temos dinheiro para suportar estes ordenados todos, por isso é que vieram dizer que a ESE vai continuar a funcionar por muitos anos

Pico,Logo Existo

Fernando Fernandes disse...

sublime. a semelhança dum célebre "watergate" temos aki um "esegate"...

finalmente alguém teve a coragem que a lucidez intelectual obrigava...finalmente alguém traduziu a ignorância dirigente disfarçada em eloquência discursiva.

Anónimo disse...

Comunicação dentro do CD da ESE:

Presidente: Vice faz-me um favor, vais la abaixo e dizes po segurança chamar aqui a funcionaria do bar
Vice: senhor segurança, o presidente quer que você lá va com a funcionaria do bar
Segurança: senhora funcionária, o vice do CD disse pra você lá ir quando puder e levar um tabuleiro para trazer umas canecas vazia que la estão
Senhora do bar: boa tarde senhora secretária do CD aqui esta o tabuleiro com os copos que me pediram
Secretária: quem é que lhe pediu isso?
Senhora do Bar: O presidente?
Secretária: o presidente não esta
salta o presidente da sala e diz:
boa tarde, ja trouxe as linguas de gato que lhe pedi?
Senhora do Bar: pediu-me copos
Presidente: não desculpe eu pedi bolos de amendoa para distribuir na reunião de Bolonha que vai acontecer as 15 horas de ontem...

Anónimo disse...

acho uma grande falta de respeito os alunos não serem informados sobre estas novidades bolonhesas! mas também, seja como fôr, para saber e não poder dizer nada, mais vale ficar na ignorância! sempre somos mais felizes!

Pessoal (não do meu bairro da minha escola, as eleições para representantes dos alunos e para as AE's estão aí!! vamos ficar todos parados ou é agora que nos vamos começar a mexer????

saudações de quem pica

Anónimo disse...

Era de valor falarem aki das candidaturas a AE

Anónimo disse...

Abutres....

Anónimo disse...

Parece que eles falam mais para a comunicação social do que para os alunos.

"Bolonha põe e dispõe

«Nós somos a Nova-Brigada-dos-Coronéis-de-Lápis-Azul perfilada em novos quartéis aguçada na ponta que mais risca esses papéis escritos pelos contra a Lei dos bacharéis» (Fausto in A Ópera do Cantor Maldito,2003)


O irreversível caminho para a extinção dos bacharelatos foi por mim analisado num artigo anterior (2001). Houve um momento em que eles pareciam resistir, nem que ficassem na versão anglo-saxónica de bachelor: para aí apontavam, explicitamente, os relatórios de três coordenadores, (do "grupo dos 23" nomeados pela então ministra do MCIES), das áreas científicas de «Ciências Humanas», «Ciências Políticas e Relações Internacionais» e «Formação de Professores». Outros seis, mais preocupados com a língua lusa, defendiam o bacharelato como grau para o 1º ciclo de estudos. Os adeptos de uma duração mais longa, entre 4 e 5 anos, optavam pela licenciatura – Desporto, Direito, Enfermagem – enquanto que para os cursos de Medicina propunham o grau de mestre. O balanço desse processo mostrava, nas palavras de João Vasconcelos Costa (2005), que Bolonha, em Portugal, era «a grande confusão», em especial, no referente à duração e articulação dos dois primeiros ciclos.

Apesar de a opção pelos três anos ser já então maioritária, a segunda revisão da Lei de Bases do Sistema Educativo (Agosto de 2005) enterrou de vez o bacharelato. Como dizia o 'céptico' Santana Castilho (2002), a «Declaração de Bolonha está a conduzir-nos para uma acéfala uniformização de currículos e graus académicos». Mas os seguidores do 'espírito de Bolonha' têm procurado convencer-nos de que o 'paradigma' da formação mudou. Não, o que se alterou foi apenas a ‘medida’: em vez de horas lectivas e anos escolares passa agora a falar-se em ECTS (European Credit Transfer System). O resto é ideologia, retórica, muita crença e alguma esperança na generalização de certos dispositivos de trabalho (pretensamente activos e autónomos). O tempo de maturação é uma variável fundamental nos processos de aprendizagem. Mas Bolonha vai em sentido contrário: privilegiam-se as formações curtas (mas de banda larga!), cessam as disciplinas anuais, a estrutura modular impõe-se, reduz-se o ensino presencial, incentiva-se o e-learning («não precisa de ir todos os dias à faculdade, recorra ao tele-estudo» será o slogan para cativar candidatos num futuro próximo). São os próprios 'convictos de Bolonha' a reconhecer o óbvio: «Se tivermos formações mais curtas, significa menor quantidade de conhecimentos. [O]s alunos possuirão menos conhecimentos, mas terão muito mais capacidade de usá-los para fazer frente à vida real.» (Pedro Lourtie, pontosnosii, nº 5 Maio 2006, p. 11). Como é que se pode ser mais competente com menos conhecimentos? Para os que se afirmam tão preocupados com a empregabilidade e a competitividade, o ensino superior não vai prestar um bom serviço à economia, pois o que dará aos empregadores é “gato por lebre”. A 'agenda escondida' de Bolonha é a concretização do pensamento neo-liberal, traduzido na redução de custos orçamentais com o ensino superior (nomeadamente através do pagamento dos estudos de um 2º ciclo que tende a generalizar-se), bem sintetizada na expressão de Rui Namorado Rosa (2003): «o termo utilizado para descrever o processo de Bolonha seria o cenário ‘business as usual’». Por arrasto, a desqualificação de diplomas e o esvaziamento do significados dos graus (licenciatura e mestrado, em particular).

Bolonha foi um assunto que entrou progressivamente nas nossas agendas. Temos vindo a assistir «a uma espécie de imposição, silenciosa mas inexorável, sobre o conjunto do ensino superior, da visão governamental das chamadas ‘directivas de Bolonha’» (Fernando Rosas, 2004). Os debates e as publicações proliferam ainda que, até agora, focados no nível 'macro'. Convictos e cépticos vão esgrimindo argumentos, clarificando posições. Mas até 2010 há que erguer o «espaço europeu do ensino superior». Chegou finalmente a hora de passar ao nível 'meso': e o garrote dos prazos, de repente, obriga a correrias na revisão curricular dos planos de estudo de todos os cursos das escolas universitárias e politécnicas. Uns fazem-no de forma mais (ou menos) participada, outros deixam a tarefa a nichos directivos e a lideranças pedagógicas militantes (infelizmente, nesta matéria, ainda não se pode recorrer ao tão cultivado manual de 'boas práticas'). Uma certeza: quem não 'adequa' ou 'reestrutura'… não sobrevive (ou seja, não é financiado)."

por Luís Souta
(Professor Coordenador da ESE de Setúbal)

in Setúbal na Rede 22-05-2006

Anónimo disse...

"Os alunos do Politécnico de Setúbal, com uma participação muito reduzida neste verdadeiro processo revolucionário, estão esperançosos..."

Luciano Pereira
in Setúbal na Rede, 20-04-2006
http://www.ese.ips.pt/ese/Opiniao/2006/op20_04_06.htm

Eles escrevem, escrevem, escrevem, escrevem mas aos alunos não dizem nada...

Sr Luciano Pereira, nós de facto gostariamos de participar e acima de tudo sermos informados mas parece não ser do vosso interesse que os alunos se intrometam.

Para quando um esclarecimento aos alunos?

Anónimo disse...

Bolonha é muito invisivel para nós alunos e isso é inqualificavel
são os chamados golpes por baixo da mesa
e baixos contra a comunidade estudantil.
os alunos deviam ser os primeiros a estar a par deste processo porque vão ser eles os visados e devem ter participação activa neste...
é lamentavel que se sonege a capacidade de decisão a todos os órgãos estudantis e que as decisões sejam apenas tomadas de um lado como se a razão estivesse sempre do lado dos mesmos ...
somos todos assim tão burros e estupidos?????
saudações açoreanas e não bolonhesas