sábado, 9 de fevereiro de 2008

Ponto de Vista

Já nos chamaram terroristas, extremistas, comunistas e até radicais, depois deste post poderemos concerteza acrescentar socialistas ao extenso rol (que inclui também alguns insultos) de catalogações a que somos sujeitos. Como espaço livre, que nos definimos, damos voz e palavra a todos, independentemente da sua filiação partidária. Em entrevista a um jornal diário, publicada ontem, Manuel Alegre (escritor, ex-candidato à presidência da República e deputado do PS) não hesita em apontar o que está mal dentro do seu partido e no país, analisando alguns dos problemas com que nos debatemos actualmente, entre eles a educação. Deixamos aqui um excerto, relativo ao panorama da Educação, de uma entrevista que nos parece coerente e realista, que vai de encontro às muitas preocupações que nós, estudantes e comuns cidadãos, temos de enfrentar.

"O que acha da politica de educação?
Estive numa reunião, em Gaia, onde estavam muitos professores e fiquei muito impressidonado com a maneira como os professores se sentem humilhados, despossados da sua dignidade. Não se faz uma reforma nas escolhas contra os professoares e sem os professores ou humilhando os professores ou deixando os professores de fora da gestão ou fora das soluções, ou regressando ao papel de director, que ainda por cima pode ser alguém de fora da escola. Para já não falar do Ensino Superior. Fizeram coisas que põem em causa aquilo porque nos batemos nos anos 60, a autonomia, a gestão democrática.

Como vê a possibilidade, derivada de Bolonha, de cursos de menos de 20 alunos fecharem? Até que ponto isso pode prejudicar a investigação e o saber em Portugal?
Há casos e casos. Mas não se pode submeter o ensino à lei do mercado, a critérios puramente mercantilistas. E há algo em Bolonha que tem essa lógica. A lógica de submeter o ensino e as escolhas que são feitas à rentabilidade e à lógica do mercado. Pode haver um curso de 20 alunos de Física Quântica, por exemplo, que seja necessário. O Grego pode não ter 20 alunos, mas é importante. É preciso saber as raízes da língua. Vi a noticia de que se ia fechar a Faculdade de Letras. Isso é terrível. As Humanidades são fundamentais. Seria um crime. Primeiro que tudo, a língua. É preciso uma cultura clássica. Mesmo para a Ciência. Essa visão unilateral do ensino só voltado para a Matemática, para o Inglês, para o mercado e para a empresa, é uma visão muito redutora do ensino."


in Público, 08-02-2008

3 comentários:

Miguel Bugalho disse...

"...é uma visão muito redutora do ensino."

Sinto-me "redutoríssimo"!!!

Anónimo disse...

Na hora das decisões o peso dos cifrões prevalece sobre todos os outros aspectos. A nossa falta de informação e de interesse por estes aspectos leva a que as decisões sejam tomadas sem ter em conta os interesses dos alunos (neste caso consumidores). Depois é o que todos sabemos, queixamo-nos e dizemos que tudo está mal, mas já pagámos e questionar as entidades até dá muito trabalho, por isso mais vale estar quietinho! O futuro do ensino, sobretudo o superior, afigura-se "negro" e complicado mas há quem diga que o futuro somos nós que o fazemos...

Anónimo disse...

Bom post este de facto. Não só é verdade que em Portugal apenas os cursos das ciências têm valor, e são considerados dignos e difíceis, como ter uma turma de 10 alunos é considerado um prejuízo, perda de tempo do professor. Em portugal mais vale ter 10 novos serventes nas obras, do que 10 novos alunos que até podem vir a aprender algo. Ainda vivemos no mundo do "parece", e Portugal parece ser um país que não se quer deixar disso,porque no fundo, as humanidades são sempre "fáceis". Provavelmente um aluno de humanidades não faz cálculos de matemática analítica,mas duvido que um engenheiro compreenda textos em latim...mas pronto, se tem a ver com números, e visto que números têm a ver com dinheiro...tudo dito.A importância dos cursos das humanidades e ciências sociais são basilares na sociedade. Não seja por isso que a ordem dos Bastonários da Medicina reconheceu que a muitos dos tão chamados médicos, lhes falta a componente humana,pois somos todos nacos de carne, a não ser que os sr.s doutores tenham pintelhos de ouro e orgãos de prata...as ciências prevalecem, e o mercado dita o ensino. Isto é estranho,porque vivemos num país que nem sequer é economicamente viável e desenvolvido,e ainda assim apontam o ensino para as exigências lucrativas do mercado. Resta saber que mercado é esse, visto que é raro mandarmos estudantes lá para fora,e com bolsas reduzidas e completamente desfazadas da realidade dos outros países,sem querer dizer que em países como Áustria,Holanda é obrigatório fazer um período de estudos noutro país...e Portugal continua na mesma,de querer parecer algo que...por este andar nem daqui a muitos anos será.