quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

100 mil professores

A concretizarem-se as estimativas dos sindicatos, cerca de 100 mil professores (90% dos que teriam aulas hoje) vão aderir à paralisação. O Ministério da Educação não tomou medidas para minimizar o impacto dos protestos, que deverão afectar, a diferentes níveis, todos os 1,4 milhões de alunos A greve de hoje deverá significar um esforço financeiro de seis a sete milhões de euros para os professores, atendendo aos vencimentos que deixarão de receber. Em média, segundo disse ao DN António Avelãs, da Federação Nacional dos Professores (Fenprof), os profissionais do sector vão sacrificar "60 a 70 euros líquidos" por um dia de ordenado, sendo que perto de 100 mil deverão fazê-lo.

"Estamos à espera de uma adesão [à greve] muito elevada, entre os 85% e os 90%", disse o sindicalista. Em termos numéricos, defendeu, "é difícil apontar valores exactos, já que nem todos [os 140 mil professores da rede pública] têm aulas hoje". Porém, acrescentou, "uma adesão na casa dos 100 mil é uma previsão razoável".

No que diz respeito aos cerca de 1,4 milhões de alunos do pré-escolar ao secundário e às mais de 10 mil escolas públicas, a concretizarem-se estas estimativas, o mais provável é que os efeitos da greve sejam gerais, o que não equivale a dizer que ninguém terá aulas ou que quase todas as escolas vão fechar portas.

Contactado pelo DN, o Ministério da Educação informou que "não" estão a ser tomadas quaisquer diligências no sentido de minimizar o impacto do protesto, escusando-se a avançar estimativas sobre a participação.

O líder da Fenprof, Mário Nogueira, disse ontem à agência Lusa que "o mais fácil [hoje] vai ser contar as escolas que se mantêm abertas e com aulas", mas António Avelãs preferiu não fazer previsões a esse nível: "Em teoria, uma escola pode manter-se aberta mesmo que todos os professores façam greve", explicou.

Por outro lado, acrescentou, "ao contrário de paralisações anteriores, em que a região de Lisboa teve tradicionalmente uma taxa maior de escolas afectadas", desta vez, "não se deverão notar diferenças, porque os valores serão altos em todo o País".

"Bater recordes"

Aliás, para a Plataforma - que este ano já conseguiu mobilizar mais de 100 mil professores em duas manifestações nacionais - o dia será seguramente "histórico", com taxas de adesão só comparáveis às greves que a classe fez nos anos 80.

"Houve greves muito grandes com o ministro Sottomayor Cardia [1976-78] e, mais tarde, nos anos 80, durante a aprovação do antigo Estatuto da Carreira Docente, mas acreditamos que este protesto será ainda maior", disse Lucinda Manuela, da Federação Nacional dos Sindicatos da Educação (FNE).

"Essas grandes greves eram para lutar por mudanças que os professores queriam implementar", lembrou. "Esta tem essa vertente [contestação ao modelo de avaliação e ao estatututo], mas já é algo mais. Tornou-se uma expressão da revolta que os professores sentem e deverá bater recordes."

Os principais líderes sindicais estarão esta manhã nas escolas. Mário Nogueira (Fenprof) visita a Secundária Gil Vicente, em Lisboa, às 08.00; enquanto Dias da Silva (FNE) estará às 09.30 na Secundária Freitas Branco, em Paço de Arcos.|

in Diário de Notícias, 03/12/2008

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